1.
Sua escola é a roça,
Seu trabalho é pesado,
Pelo tanto que ele faz
E pelo serviço prestado;
Devia ganhar dinheiro
Do tanto dum deputado.
2.
Todo dia, no roçado,
Vende serviço barato;
Se broca, não quebra foice,
Se limpa, não cobre mato;
Enche o prato dos outros,
E não tem nada em seu prato.
3.
O que faz é limpar mato,
Mas conquista pouco espaço;
Tá sujeito a cobra e rato,
À quentura do mormaço,
E passar anos carregando
A seca no espinhaço.
4.
O que tem muito é fracasso,
E pouca gente o entende;
A água vasa da lata,
Se bota uma carga, pende;
Quando ele fala fiado,
O bodegueiro não vende.
5.
Pouca gente compreende
Que ele sofre todo dia,
Bota fogo na coivara
Que chega a madeira pia,
E é assim que ele vive
A vida com alegria.
6.
Trabalha com maestria
Na sua propriedade,
Limpa metade da roça,
O mato cobre a metade;
Pode até lhe faltar grana,
Mas sobra felicidade.
7.
Devido a sua vontade
E a seu trabalho
forçado,
É que às vezes agente come
Jerimum e milho assado;
Faz pena o agricultor
Não ser mais valorizado.
8.
Apesar de humilhado,
É cheio de alegria;
O café dele é mais quente,
A água dele é mais fria;
Dorme e sonha toda noite,
Luta e sofre todo dia.
9.
Vive cheio de alegria,
Passando muito sufoco;
Todo dia vai a roça,
Limpa mato, arranca toco;
Ele pode não ter nada,
Mais de tudo faz um pouco.
10.
Trabalha igualmente a um louco,
Mas nunca deixa a rotina;
Menino, ainda menor,
Trabalhar o pai lhe ensina;
Dificilmente esse filho
Venderá droga na esquina.
Hosmá Passos.
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